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Unidade na diversidade

Mestre Pop e a construção
de um novo olhar para a capoeira
PAOLA VICENZI FRANCO
252 páginas, 2017
ISBN 978-85-60716-25-8
Com imagens da trajetória
do capoeirista Mestre Pop

Paola Vicenzi Franco é historiadora, bacharela e licenciada na UFSC / Universidade Federal de Santa Catarina. Iniciou-se na capoeira no final da década de 1990 e desde 2008 treina com mestre Pop,que atualmente ministra aulas no Espaço de Convivência Transcultural Aruandê, na Armação, em Florianópolis. Vive em Florianópolis, Santa Catarina.

 

Vive em Florianópolis, Santa Catarina.       

PAOLA FRANCO

Um trecho da Apresentação do livro

      O berimbau soou grave nas mãos do mestre. Sob os primeiros raios de sol de uma manhã de inverno, afinava o instrumento recém-montado, ansiando pela chegada dos demais capoeiristas. A Praça Fernando Machado, no Centro de Florianópolis, encontrava-se ainda quase vazia. Aos poucos os convidados foram chegando, vindos dos quatro cantos da Ilha e continente. O espaço foi sendo ocupado por homens, mulheres e crianças, capoeiristas adeptos de variadas e distintas vertentes[1].      Quando o local já estava quase lotado, o mestre deu as boas-vindas a todos e orientou o início da festa! 

        Era um sábado, 2 de agosto de 2012. Comemorava-se a II Semana da Capoeira da Ilha de Santa Catarina, que naquele ano teve a organização coordenada por mestre Pop. O evento que ali acontecia era parte da programação e chamava-se Roda da Diversidade, atividade idealizada por ele já há alguns anos, mas que naquele dia tomaria um formato especial: a ideia foi ocupar o vasto espaço da Fernando Machado com as diversas capoeiras da Ilha. Para isso, fizeram várias rodas simultaneamente, de acordo com as vertentes ali representadas.

        Mestre Pop convidou a todos indistintamente. Angoleiros de distintas linhagens, contemporâneos da mesma forma. E a praça lotou. Permaneceram três rodas simultaneamente. Duas delas de capoeira contemporânea e a terceira de angola tradicional, também com representação de praticantes da chamada angola do meio, nome dado por mestre Pop aos angoleiros de qualquer linhagem que se diferencie da escola de angola que ficou mais difundida atualmente, e que via de regra é formada por seguidores de mestre Pastinha, um dos mestres angoleiros mais conhecidos na história.

         A festa estava pronta. A arte e alma da capoeira coloriram aquela praça em suas diversas formas de expressão. Cada roda seguiu rigorosamente seus preceitos. Os angoleiros se destacavam na própria vestimenta característica: a maioria usava camiseta e calça social, cinto e tênis. Permaneceram sentados sob a sombra de uma grande árvore, sem pressa no jogo e embalados ao ritmo cadenciado do toque de angola. Já os contemporâneos mantiveram-se em pé, jogando sob a forte marcação da capoeira regional, dentre outros. Em sua maioria estavam vestidos com as conhecidas calças de abadá, camiseta e suas cordas de graduação.

    Mas nem todos presentes seguiam padrões estéticos pré-estabelecidos. Muitos participantes, independente da vertente ou linhagem, não estavam uniformizados, como já é de costume nas rodas de rua da cidade.

        E assim se deu o evento. Simultaneamente, por cerca de duas horas e meia, as rodas embalaram os corpos e almas dos capoeiristas. Durante todo o tempo houve uma rica troca entre os participantes. Vivenciando ou apenas observando... era aquele um espaço de oportunidade para quem desejassem se experimentar em ambientes e atmosferas de capoeira tão diversas e tão adversas.

        Mestre Pop terminou o dia se sentindo realizado! Era aquele um momento único, simbólico, que ele idealizou movido por uma causa: a unidade na diversidade.

          (....)

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