Depois da água
TELMA SCHERER
120 páginas, 2014
ISBN 978-85-60716-10-4
Fotografias de Telma Scherer
Telma Scherer é professora universitária (UFSC) e foi professora-colaboradora de pintura no CEART - Centro de Artes da UDESC. Licenciada e bacharela em Filosofia (UFRGS); graduada em Artes Visuais (UDESC); mestra em Literatura Comparada (UFRGS), doutora em Teoria Literária (UFSC/Universidade do Porto) e pós-doutoranda em Artes Visuais/Processos Artísticos Contemporâneos (UDESC). Publicou os livros de poemas “Desconjunto” (IEL/RS, 2002) e “Rumor da casa” (7 Letras, 2008) e organizou “Entrevistas, Ricardo Aleixo” (Azougue, 2018).
Vive em Florianópolis, Santa Catarina.
Um poema de Depois da água
Ter um tronco na cabeça um rombo
um olho
Ter um troço na cabeça
um troco um espaço destroçado.
Ter um osso na cabeça um oco
ter uma dúvida ao lado.
Ter um filme rodando na cabeça
um fim um fundo
um falso mundo moribundo.
Ter laços trocados entre a cabeça e o abraço.
Ter braços na cabeça
ter nasgos de fundos-musgos
nacos de lusco-fusco e ter
fuscas na cabeça fornicações migalhas
ações e maravalhas e estrias
Ter mais-valias na cabeça
ter tantos e tão tontos
e poucos migalhos.
Ter alhos na cabeça e cruzes de cabeçalhos
Ter cacarecos e bugalhos e búzios e espantalhos
e espasmos de exasperações.
Ter modelos de ações na cabeça
e títulos e ovários
ter otários na cabeça
e altos salários e concursos e minúsculos de músculos
entesados.
Ter tesões na cabeça testões arremessados
para o outro lado Ter baralhos na cabeça
embaralhados barulhados
embrulhados e burlados.
Ter buracos na cabeça nacos de nadas
tostões e namoradas Ter nados lodos
nenhuns e nuvens.
Ter nuvens na cabeça que passam
ter passados Ter passos na cabeça
passadas em calçadas Ter jogos de sapatas
Ter trapaças ter traças na cabeça e braças
Ter um ás e um és
Ter is e vis-a-vis à vista da cabeça
Ter vastos vestígios de martírios.
E ter mares na cabeça e bulevares de piratas
e baratas e baratas
e belvederes de onde se pode ver o que
se ouve e se Ave só dentro da cabeça.